Cilto José Rosembach


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A gestão das rádios comunitárias

11/07/2018 11:22

A gestão das rádios comunitárias

                                                                                                 *Cilto José Rosembach

As rádios comunitárias funcionam, normalmente, com poucos recursos financeiros para adquirir e manter os equipamentos[1], cuidar do espaço físico, da energia elétrica, de água, telefone, internet, material de escritório, gastos com pessoal que recebe ajuda de custo para operacionalizar a emissora, principalmente a parte técnica. Daí a necessidade de promover eventos para angariar fundos.

Há, ainda, os apoios culturais provenientes do comércio local, que ajudam a manter financeiramente as emissoras. Muitas emissoras, para conseguir manter-se no ar, recebem contribuições e doações de organizações e projetos parceiros.

Nas emissoras comunitárias, os comunicadores/apresentadores/locutores, os produtores e a coordenação são voluntários, disponibilizando algumas horas por semana no projeto. Sobre a gestão nas rádios pesquisadas, pode-se constatar:

Na Rádio Esperança, a gestão financeira é feita por um administrador-geral designado pela diretoria da Associação Rádio Comunitária Nova Esperança, e há um conselho geral da rádio, que se reúne semestralmente para avaliação e encaminhamentos das diretrizes da emissora. A rádio recebe apoio financeiro da Petrobras em projetos de meio ambiente. Realiza promoções, almoços, festivais e shows para arrecadar fundos e manter o projeto de rádio comunitária.

Na Rádio Cantareira, a diretoria da Associação é responsável pela gestão financeira, e as decisões e encaminhamentos são tomados coletivamente pelos comunicadores nos encontros mensais. Há uma coordenadora-geral e cada comunicador também contribui com uma ajuda em dinheiro (conforme sua possibilidade, não há valor estabelecido) para as despesas da rádio, conforme relata Marcos Gouveia, tesoureiro da Associação Cantareira:

São promovidas, rifas, bingos, festas juninas. Na Cantareira FM há uma caixa comum que fica no estúdio da emissora onde os programadores colocam um envelope com o nome do programa a sua contribuição mensal para ajudar a manter o projeto de comunicação de rádio. Há algumas pessoas das comunidades que espontaneamente colaboram com alguns trocados para manter a programação. As comunidades apóiam os eventos, ajudam organizar promoções para a arrecadação financeira, são feitas algumas parcerias, seja promoção conjunta com comunidades ou equipamentos para angariar fundos.

O que chama atenção é que, na lógica do capitalismo, quem trabalha deve receber pelo trabalhado, porém há algo notável com os programadores que, além de produzirem e apresentarem o programa, colaboram financeiramente. Realmente são pessoas que amam o que fazem, são os chamados “radio-amantes”.

Por outro lado, membros da Rádio Cantareira relatam que ainda há pessoas na comunidade que desconhecem as características da rádio comunitária. É preciso criar situações nas quais os próprios comunicadores comunitários ajudem a esclarecer quais são as características da rádio comunitária e sua filosofia de trabalho, que emprega comunicadores são voluntários. O relato de um jovem, membro da rádio e técnico de áudio ilustra essa situação:

há pessoas, radialistas ou aventureiros que se apresentam para trabalhar na emissora comunitária e logo perguntam quanto a rádio paga para o locutor fazer um determinado programa. Então a gente explica a filosofia da emissora comunitária, onde se trabalha em mutirão, sem receber salário. Alguns ficam desanimados, outros se apresentam para fazer esta nova experiência e acabam compreendendo as características do trabalho da rádio comunitária e tornam-se voluntários. (Wanderson Cruz)

Uma das formas de gestão ainda pouco utilizadas no Brasil, tanto na comunicação comunitária quanto em outras áreas, é a formação dos conselhos. Essa prática visa agrupar diferentes protagonistas da comunidade para acompanhar e contribuir com o funcionamento de determinado projeto.

Na proposta das rádios comunitárias, a constituição do conselho comunitário de comunicação é uma importante estratégia para mobilizar os vários segmentos organizados na região da abrangência da rádio, para contribuir e manter desde a linha editorial até as formas de sustentabilidade da rádio.

Ainda bastante incipiente é a organização do Conselho Comunitário de Comunicação da Rádio Cantareira, que está em processo de experimentação de suas atribuições, como relata Juçara Terezinha Zottis:

O conselho de Comunicação Comunitário da Rádio Cantareira FM 107,5 tem a missão de acompanhar toda a grade da programação da emissora e avaliar se os conteúdos veiculados nos programas estão em acordo com a missão da rádio.

É um conselho formado por 13 representantes da comunidade. São pessoas representantes de organizações sociais juridicamente constituídas, além da equipe de coordenação da rádio e o presidente da Associação Cantareira mantenedora da emissora. O Conselho é mais uma forma institucional de participação da comunidade na gestão da qualidade da programação da emissora.

 

Já o Conselho da Rádio Nova Esperança é formado pelos programadores e locutores, por algumas lideranças dos bairros vizinhos, organizadas ou não em entidades. O conselho se reúne a cada quatro meses para uma avaliação do projeto rádio, ligado aos demais projetos da Associação Melhoramentos, e depois confia à coordenação da emissora as decisões operacionais, conforme nos informou José Severino da Silva.

 Vale lembrar que o contexto da Vila Esperança difere muito do contexto da Rádio Cantareira. Daí a necessidade de adequação da organização.

*Graduado em: Filosofia, teologia, pedagogia, mestre em comunicação, radialista- locutor, fundador do Jornal Cantareira, da Rádio Cantareira,  Associação Cantareira, do Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos, pároco na paróquia São José Perus-SP, Coordenador da pastoral presbiteral, foi assessor durante 20 anos da pastoral da comunicação na Região Episcopal Brasilândia, defendeu a tese de mestrado em Jornalismo da Rádio Comunitária, 2006,PUC-SP, diversos artigos sobre comunicação e pastoral.

 



[1]     Para que uma rádio comunitária funcione são necessários alguns equipamentos mínimos: transmissor, antena, torre, cabos, mesa de som, aparelho de CD, microfones, CDs, aparelho toca-fitas. Atualmente, as rádios já estão equipando-se com computadores com programas para rádio, compressor de áudio e outros aparelhos para facilitar e melhorar a qualidade técnica.