Cilto José Rosembach


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A entrevista *Cilto José Rosembach Nas entrevistas aparecem a temporalização e a espacialização da vida da comunidade, quando, por exemplo, no programa “Meu Caro Amigo”, o

11/07/2018 11:21

A entrevista

                                                                                  *Cilto José Rosembach

Nas entrevistas aparecem a temporalização e a espacialização da vida da comunidade, quando, por exemplo, no programa “Meu Caro Amigo”, o locutor refere-se ao Jardim Vista Alegre e a sua história. Resgata-se a memória histórica da narradora e do bairro.

A entrevista feita com o migrante Anilson Brito, no programa “Meu Caro Amigo”, retrata questões importantes sobre a situação da vida das pessoas do local. Nesse caso, há ênfase em contar história de vida de pessoas que saem do seu estado natal em busca de melhor condição vida na metrópole e apresenta quais são as dificuldades encontradas.

As entrevistas permitem ao entrevistado uma reformulação de sua identidade, na medida em que ele se vê perante o outro. Ele se percebe “criador da história” a partir do momento em que se dá conta, mesmo minimamente, que transformou e transforma o mundo (talvez até sem ter a consciência disso), questionando elementos da vida social. Então ele pára e reflete sobre sua vida – e este momento é acirrado pelas entrevistas, ocorrendo com freqüência – se vê como um ator social [...] (LE VEN apud CARNICEL, 2005, p. 73)

Não basta apenas ater-se à técnica da entrevista, sem levar em consideração o envolvimento humano das pessoas – nada que um bom diálogo não possa superar. Uma boa entrevista exige inter-relação, cumplicidade. O entrevistador sempre tem um objetivo definido; quando busca entrevistar alguém tem em vista uma pauta para o jornal, o rádio etc.

Não é só o entrevistado que ouve, não só o entrevistado que fala. Não é um monólogo, evidentemente, ou um depoimento para a história. E muito menos um inquérito! É um diálogo, mesmo que um diálogo entre desiguais. Hoje o entrevistador, – historiador/cientista social – não ignora o sentido da fala como palavra que também institui um espaço público. (LE VEN apud CARNICEL, 2005, p. 74)

(GILBERTO CRUZ): E o que levou você a vir para São Paulo, mais especificamente aqui na região da Brasilândia?

(ENTREVISTADO): Olha como no sonho de todos os nordestinos, a cidade de SP é como um espelho vou dizer assim, ela é uma cidade grande, vista pelas pessoas como a cidade da esperança. Nós nordestinos de um modo geral saímos do Nordeste com o intuito de vir pra cá mudar de vida, tentar crescer na vida; só que a nossa vinda acaba sendo uma ilusão, pois quando a gente chega em SP não é nada daquilo que a gente pensava. Não é nada daquilo. Veja, por exemplo, os meios de comunicação: eu digo que a novela a televisão mostra os pontos pitorescos, o luxo, as casas nobres da cidade de São Paulo, vamos dizer assim, Av. Paulista e tantos outros lugares bonitos, mas não se mostra a realidade completa da cidade, não mostra a periferia, as favelas.

Uma palavra sobre a entrevista radiofônica como um dos gêneros jornalísticos muito utilizados no rádio:

A entrevista é dos gêneros jornalísticos que mais tem adaptabilidade ao rádio e às características específicas do veículo. É uma das fórmulas mais ágeis para dar a conhecer uma informação ou para aprofundar o conhecimento dos fatos e suas conseqüências, assim como para se aproximar da personalidade dos protagonistas das “histórias”. Na entrevista se produz um universo comunicativo muito complexo, no qual intervém a comunicação interpessoal e, portanto, bidirecional, e por outro lado, fluxos comunicativos unidirecionais diretos e distintos. A entrevista em todos os seus tipos e modelos é formalmente um diálogo que representa uma das fórmulas mais atraentes da comunicação humana. Produz-se uma interação mútua entre o entrevistado e o entrevistador, fruto do diálogo. Essa interação-natural na comunicação humana a nível oral – exerce um efeito de aproximação no ouvinte, que se sente incluído no clima coloquial, ainda que não possa participar. (PRADO, 1989, p. 57)

Os três programas que estamos discutindo fazem entrevista, valendo-se dessa técnica fácil, ágil, atraente e econômica. Valoriza o diálogo e é democrática. Proporciona a oportunidade de expressão de pensamento, idéias, projetos e a livre expressão, além de possibilitar o diálogo com os ouvintes pelo telefone. Desenvolve o raciocínio e o debate.

No programa “Espaço das Comunidades”, esse gênero de jornalismo comunitário está presente quando a apresentadora entrevista o professor Edson, que esclarece sobre a terminologia utilizada pelo ambientalista. Em seguida, recolhe opiniões, com a participação dos ouvintes pelo telefone, ou seja, dá oportunidade de manifestação sobre o tema em questão: a destruição da natureza em torno da Serra da Cantareira.

Outra demonstração de jornalismo comunitário pode ser observada no programa “A Voz da Comunidade”, quando o apresentador José Severino abre o programa anunciando a participação da equipe Médico da Família. Diante da precariedade da saúde do povo, o programa vai direto à necessidade da população. Trata-se de um programa informativo e interativo, caracterizando uma prestação de serviço ao povo da comunidade.

(JOSÉ SEVERINO) É isso aí, na Nova Esperança FM nós estamos aí com a equipe do “Médico da Família”, com o Doutor Jorge, a nossa enfermeira Ester, a auxiliar Évelin e os agentes comunitários, que estão aí também todas as terças-feiras na Vila Esperança. E na segunda-feira na Ilha Bela, o Médico da Família estará atendendo aí a comunidade. Então você venha, participe. A gente dá a seqüência através da Nova Esperança FM, a serviço da comunidade para que justamente cada cidadão e cidadã tenham informação da saúde na sua casa.

(DOUTOR JORGE) – Bom, nós hoje estaremos falando sobre a tuberculose. É uma doença temida por todos, é uma doença que realmente vem assustar as mães principalmente por causa dos seus filhos. Na verdade a tuberculose é uma doença antiga, muito conhecida, que pode ser tratada. Milhares de pessoas continuam adoecendo e até morrendo por causa da tuberculose. Para evitar a tuberculose é preciso tomar alguns cuidados e ter informações a respeito dessa patologia. A tuberculose é transmitida pelo ar, por uma bactéria chamada Bacilo de Koch, que ataca principalmente os pulmões.

 A pessoa que está doente por causa da tuberculose expele o bacilo através da tosse, através do falar, do cantar, do respirar, do conversar e, ao expelir esse bacilo, este pode ficar no ar por várias horas e aí a pessoa que está conversando com uma outra pessoa doente, contaminada, ao abrir sua boca, pode receber esse bacilo e contrair a doença. Locais fechados e sem ventilação facilitam muito a transmissão da doença. Uma pessoa bem alimentada e com boas condições de saúde geralmente tem bem menor probabilidade de desenvolver a doença. Agora, uma pessoa que é fraca, uma pessoa subnutrida, uma pessoa idosa, ou geralmente aquela pessoa alcoólatra ou que usa drogas tem o organismo debilitado, então ela não vai ter a mesma defesa, e aí pode contrair facilmente a doença que se instalará nessa pessoa e muitas vezes, a depender da resistência, pode até levar à morte.

Há aí linguagem que favorece o entendimento daquela comunidade. Tanto o apresentador como o doutor Jorge utilizam palavras e exemplos para ajudar a comunidade a entender a importância e a necessidade de cuidar da saúde.

O programa, construído na forma de um mosaico de programetos com entrevistas, informa a comunidade abordando temas como tuberculose, saúde da mulher, câncer no colo do útero, papanicolau, comportamento no trânsito, drogas, fumo, nicotina, álcool, maconha, cocaína, inalantes, heroína, HIV, acidentes no lar, produtos químicos, animais de estimação, entre outros, envolvendo a comunidade, principalmente porque são ligados ao cotidiano das pessoas. As informações deste programa atingem diretamente as necessidades da comunidade. Nesse caso, o meio rádio é utilizado pelos profissionais da saúde para proceder a esclarecimentos à população, entre os quais problemas de saúde, além de orientar as pessoas em relação aos cuidados preventivos que podem evitar complicações mais graves.

O jornalismo identificado no programa “Espaço das Comunidades” é de interesse das comunidades porque noticia acontecimentos como: a manifestação popular nacional, em forma de protesto em relação à política econômica do país, que acontece no dia 7 de setembro, em Aparecida do Norte com o nome “Grito dos excluídos”; interdição de terras irregulares, mutirão bíblico, locais e horários dos cursos de alfabetização de jovens e adultos, reuniões dos alcoólicos anônimos, reuniões com lideranças comunitárias. Esse tipo de jornalismo não faz parte da pauta de uma emissora convencional de médio e grande porte.

*Graduado em: Filosofia, teologia, pedagogia, mestre em comunicação, radialista- locutor, fundador do Jornal Cantareira, da Rádio Cantareira,  Associação Cantareira, do Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos, pároco na paróquia São José Perus-SP, Coordenador da pastoral presbiteral, foi assessor durante 20 anos da pastoral da comunicação na Região Episcopal Brasilândia, defendeu a tese de mestrado em Jornalismo da Rádio Comunitária, 2006,PUC-SP, diversos artigos sobre comunicação e pastoral.